Carlos DeLuna foi preso pelo assassinato de Wanda Lopez, julgado e condenado à
morte. Seis anos depois do julgamento, foi executado. Esta segunda-feira, uma
publicação académica desmontou o caso e provou que o Estado norte-americano do
Texas executou um inocente.
- Carlos DeLuna no departamento policial de Corpus Christi, no Estado do Texas -
Em fevereiro de 1983, Carlos DeLuna foi acusado de esfaquear até à morte, com
uma faca de caça, uma mulher que trabalhava num posto de gasolina na cidade de
Corpus Christi, no Texas.
Agora, pouco mais de 29 anos depois, a "Columbia Human Rights Law Review", da Faculdade de Direito da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos da América, voltou a estudar o caso e concluiu que Carlos DeLuna era inocente.
O professor James Liebman, juntamente com 12 estudantes da Universidade de Columbia, publicaram um documento, com o título "O homónimo Carlos: Anatomia de uma execução injusta", que desmonta - passo a passo - a história de Carlos até chegar à conclusão controversa de que se executou um inocente.
A cena do crime, as gravações da cobertura feita pela comunicação social, os interrogatórios a Carlos ou a aplicação de leis no Estado do Texas são alguns dos elementos que fazem parte das pesquisas.
Há cerca de seis anos, um dos nove juízes do Supremo Tribunal de Justiça dos EUA, Antonin Scalia, defensor na pena de morte, disse que "não há um único caso em que uma pessoa tenha sida executada por um crime que não cometeu".
A investigação do caso de Carlos vem provar que a declaração não é verdadeira.
A história do crime
O processo inicial do crime conta que Wanda Lopez foi surpreendida no seu estabelecimento de emprego por um homem mexicano com uma faca e ligou, imediatamente, para a polícia.
Quando a polícia chegou ao local, Wanda encontrava-se já sem vida, com feridas que haviam perfurado o seu pulmão e causado uma morte muito rápida.
Uma testemunha descreveu Carlos DeLuna como o assassino e este foi preso em menos de uma hora após o crime. A mesma testemunha, 20 anos depois, confessou não estar certa da identificação feita, uma vez que considerava "difícil identificar os hispânicos".
Desde o momento em que foi preso até que foi executado, Carlos alegou que era inocente e chegou a avançar com o nome do verdadeiro assassino: Carlos Hernandez.
O Carlos errado
Carlos DeLuna e Carlos Hernandez tinham, na altura, uma semelhança física que levava à confusão entre os dois.
DeLuna, durante o julgamento, disse ao júri que no dia do crime se encontrava com Hernandez, pessoa que conhecia há cinco anos. Os dois homens, que viviam no sul da cidade de Corpus Christi, estavam num bar.
Nesse dia, Hernandez aproximou-se de um posto de gasolina para comprar alguma coisa e quando DeLuna viu que o primeiro não voltava, foi ao seu encontro para verificar se algo se passava.
Carlos DeLuna descreveu ao júri que viu Hernandez a lutar com uma mulher atrás do balcão. Assustou-se e saiu a correr, com medo de repercussões, uma vez que o seu registo não estava limpo, devido a crimes sexuais dos quais era já acusado.
Quando ouviu as sirenes de viaturas policiais a dirigirem-se para o posto de gasolina, escondeu-se debaixo de um camião, onde, 40 minutos após o crime, foi preso.
A verdade atrás da confusão
A versão de DeLuna foi ridicularizada pelos promotores do caso que chegaram a concluir que Hernandez era uma invenção de DeLuna.
Foram feitos vários recursos por parte da defesa de Carlos DeLuna, mas este não foi poupado da execução.
O professor James Liebman começou a investigar o caso quatro anos depois da execução do DeLuna. Imediatamente, descobriu que Hernandez existia.
Com a ajuda dos 12 estudantes da Universidade de Columbia, construíram um perfil de um alcoólico com histórias de violência associadas, sempre acompanhadas de uma faca de caça.
Um informador da polícia
Ao longo dos anos, Hernandez foi preso 39 vezes, 13 delas por estar na posse uma faca, mas passou toda a sua vida adulta em liberdade condicional.
O professor Liebman acredita que Hernandez foi usado como informador da polícia durante todos estes anos, o que o poupou à prisão.
Em outubro de 1989, apenas dois meses antes de DeLuna ser executado, Hernandez foi condenado a 10 anos de prisão por tentar matar com uma faca uma outra mulher chamada Dina Ybanez.
Ainda assim, ninguém pensou em alertar os tribunais ou o Estado do Texas para reabrir o caso de DeLuna.
Hernandez chegou a confessar a culpa da morte de Wanda Lopez, em brincadeiras com amigos e família.
Agora, 29 anos depois, Liebman espera que seu trabalho encorage os americanos a pensar mais profundamente sobre a pena de morte.
in JN online, 15-5-2012
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