«Já tinha avisado os amigos mais próximos de que ia acabar com a sua vida mas sempre disse que queria enviar primeiro os dois filhos para o Brasil. E na sua página da rede social Facebook, na internet, Luciana Gioso, a dentista de 40 anos que regou o quarto de casa com gasolina e ateou fogo, em Castro Marim, matando também os filhos, de 11 e 13 anos, anunciou a tragédia e chegou a receber mensagens da mãe, que está no Brasil, para ter calma.
- Luciana Pinheiro Garcia Gioso -
Nem os medicamentos que estava a tomar para uma depressão grave lhe trouxeram a calma necessária. As provas do crime ficaram dentro do quarto onde ocorreu o incêndio e a explosão, anteontem de manhã: um recipiente com gasolina e o isqueiro de cozinha foram encontrados, pela PJ de Faro e por peritos do Laboratório de Polícia Científica, junto ao corpo de Luciana.
"A senhora apresentava um quadro depressivo muito grave, estava a ser medicada e já tinha dado dois sinais claros aos amigos de que queria acabar com a vida", confidenciou ao CM fonte próxima da investigação.
Luciana aproveitou o facto de os filhos, Leonardo, 13 anos, e Letícia, de 11, estarem a dormir no seu quarto durante o Verão - deitados em colchões, no chão - por ser o único com ar condicionado.
A dentista esperou que o marido saísse, cerca das 08h00. Fechou o quarto à chave, regou a cama e os armários com gasolina e lançou-lhes fogo. Apesar de estar a dormir, o filho Leonardo ter-se-á apercebido do incêndio, gritou e tentou chegar à porta de saída para a piscina. É esta a conclusão da PJ com base na posição dos três corpos.
Mas não conseguiu fugir às chamas dentro do quarto fechado, que provocaram depois uma forte explosão, devido à acumulação elevada de gases.
A PJ descartou a tese de acidente na moradia na Quinta do Sobral. A hipótese de intervenção de terceiros foi ponderada, mas as portas não tinham sinais de arrombamento e estavam fechadas por dentro. Os investigadores concluíram que Luciana arrastou os filhos para a morte.
"ELA JÁ ANDAVA A DAR SINAIS DE DEPRRESÃO"
"A Luciana já dava sinais de depressão há algum tempo", assumiu ao CM um dos amigos da família. A médica dentista, de 40 anos, que era proprietária, com o marido e outra sócia, da clínica Garcia e Gioso, em Vila Real de Santo António, "andava afastada das pessoas no trabalho e quando saía". "Costumava tomar café sozinha e já não falava muito", adiantou ainda fonte próxima da família.
"NÃO CONSIGO ACREDITAR NO QUE ACONTECEU"
Na quarta-feira, dezenas de amigos da família estiveram no local a dar força a Márcio Gioso, o pai de Leonardo e de Letícia e marido de Luciana Garcia. "Ainda não posso acreditar que isto aconteceu. Vim do Porto para o Algarve há oito anos e conheço-os desde essa altura", disse ao CM a amiga Laura Santos.
"O MARIDO QUERIA ENTRAR PARA VER SE ESTAVAM BEM"
Alzira Sousa, a passar férias na casa ao lado, foi a primeira pessoa a tentar entrar na moradia. "Abrimos o portão do quintal e chamámos, mas não se ouvia nada", disse, adiantando que, quando Márcio Gioso chegou, "queria entrar em casa para ver se estava tudo bem", mas foi impedido pela GNR.
FAMILIARES QUEREM CORPOS NO BRASIL
Luciana era natural da cidade de Cristais Paulista, no Estado de S. Paulo. A família está ligada ao comércio de materiais de construção. "Os irmãos e pais querem que o corpo dela e os dos filhos venham para o Brasil, porque ela desejava regressar a casa", disse ao ‘CM' Marco Filippe, do jornal ‘Comércio da Franca', que falou com um dos irmãos.
"ERAM ALUNOS DE CINCOS"
Leonardo, de 13 anos, e Letícia, de 11, estudavam na escola EB 2,3 de Vila Nova de Cacela, localidade onde moraram durante praticamente toda a vida, antes de os pais se mudarem para a Quinta do Sobral há cerca de dois anos.
"Eram alunos muito inteligentes. Tinham cincos a tudo", disse ao CM um dos professores daquela escola. Segundo um funcionário, o rapaz passava muita vezes o tempo livre "na biblioteca a ler enciclopédias" e também "era muito sociável".
Tinha especial apetência para a Matemática. Já a rapariga, "que gostava de escrever", era muito curiosa. "Uma vez entrou na junta de freguesia, que fica ao lado da escola, com uma amiga só para conhecer o edifício e o que se fazia lá dentro", disse outro funcionário.
"FAMILIARES TÊM DE ESTAR ATENTOS", Francisco Amaral, Médico de família
Correio da Manhã - O que leva uma pessoa a fazer isto?
Francisco Amaral - Para chegar a este patamar, o doente não tem uma depressão qualquer, tem de estar numa fase psicótica. O problema é que ninguém liga a este tipo de doenças, já que existem milhares de depressões a ‘passear' na rua sem serem diagnosticadas.
- O que poderia ter sido feito para evitar esta situação?
- Neste tipo de situações, as pessoas mostram sempre sinais de que algo poderá acontecer, os familiares têm é de estar atentos. Uma depressão pode estar atrás de uma simples dor de cabeça.»
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