«O casal, ele com 40 e ela com 37, tinha seis filhos. Viviam no Ohio.
Eram pobres, naquela definição norte-americana (e não só) de pobreza, que se refere a pessoas eventualmente até com empregos mas que não ganham quase nada - embora consigam arranjar dinheiro para ocasionais, surpreendentes luxos.
- Willie, um miúdo que morreu sem necessidade -
Quando um dos filhos começou a sentir-se mal, não ligaram. Quando começou a haver inchaços no pescoço dele, resolveram pensar que não era nada.
Durante quase três anos, o rapaz foi-se queixando cada vez mais, e eles impávidos. Alguns parentes insistiram: levem-no ao médico. Eles, nada. Nenhum dos filhos (a mais velha agora com dezoito anos) jamais fora ao médico. Porque havia aquele de ir? O problema, a ser problema, acabaria por se resolver.
Oito anos de cadeia
O miúdo doente continuou a queixar-se, os inchaços ficaram cada vez piores. Uma ou outra assistente social que passou disse qualquer coisa, mas sem efeito.
Um dia, em 2008, o rapaz desmaiou. Levaram-no ao hospital, ele morreu uma hora depois. Tinha linfoma de Hodgkin, uma forma altamente tratável de cancro.
Os pais foram a tribunal. Primeiro negaram responsabilidade. Depois, quando o julgamento estava prestes a começar, admitiram os factos, para evitar uma pena maior. Foram condenados a oito anos.
Uma irmã da mulher, que testemunhava pela acusação, contou que muitas vezes os tentara convencer a ir ao médico.
Para desparasitar o cão, tinham dinheiro
Eles diziam que não tinham dinheiro. Mas o procurador notou que na mesma altura não lhes tinha faltado verba, 87 dólares, para mandar desparasitar o pitbull de estimação. Consultas médicas é que eram um desperdício.
Quanto ao argumento da falta de seguro de saúde, podia valer para eles, os pais, mas não para as crianças, que têm sempre direito a cuidados médicos. E existe uma quantidade de organizações a dar apoio nessas situações.
Foi puro e simples descuido, maldade, estupidez, o que se quiser chamar-lhe.
Uma criança morreu desnecessariamente. As restantes já foram entregues a outros membros da família. Espera-se que a partir de agora passem a ir à escola, e mesmo, de vez em quando, ao médico.»
por Luis M. Faria
in Expresso online, 17-02-2012
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